Uma volta aos primórdios do Coke Luxe
- krents
- 26 de jul. de 2017
- 5 min de leitura

Era o final dos anos setenta quando o Eddy Teddy, conhecido até então como Edu, Pai Du, ou simplesmente “Eduardo Moreira” organizava as reuniões mensais em sua casa com o propósito de reunir colecionadores de discos e aficionados pelo Rock & Roll.
O Eddy era um agitador de festas e um aglutinador de pessoas, participava ativamente de inúmeras bandas de garagem e tentava como muitos administrar sua vida pessoal (esposa e filhos), a profissão de Administrador de Empresas e o amor pela música, principalmente numa época carente de informações e de materiais.

Numa destas feirinhas apareceu o Victor “Jipp Willis” que tinha sido baterista do Revolution, grupo do Marco Antônio Mallagoli (uma das maiores autoridade de Beatles no Brasil) e num bate papo, o Eddy comentou que estava afim de montar uma banda de Rockabilly.
Na mesma hora além do Victor ficar afim de tocar comentou que tinha um baixo acústico, o famoso Julião. O Eddy pirou com a notícia e mostrou um disco de uma banda que tinha acabado de sair e que se chamava Buzz and the Flyers. O Victor ficou maluco!
Foi então que resolveram encontrar um baixista e um guitarrista e decidiram que a banda teria um repertório com letras em português. O Eddy só conhecia um cara capaz de tocar um baixo acústico, o Pigmeu que na época estava tocando Jazz, MPB e fazendo gravações de estúdio.
Fez o convite e o Pigmeu resolveu arriscar.
O Victor tinha um amigo de adolescência (LELO) que tocava guitarra e tinha participado com ele em outros projetos, o cara sabia tudo sobre rock instrumental e rock and roll.
Na época surgiam bandas como Blitz e próprio Magazine que abordavam temas parecidos com os do Coke Luxe, mas com uma proposta musical diferente atraídos principalmente pela música New Wave e o Punk Rock.

A ideia do Coke Luxe era tocar Rockabilly e retratar de uma forma engraçada e ao mesmo tempo crítica sobre o dia a dia do paulistano operário que tentava sobreviver em meio caos numa época de crise e cheio de situações embaraçadas.
O nome da banda, COKE LUXE, se associava a uma doença “coqueluche” e ao mesmo tempo uma gíria antiga que significava algo que estava na moda.
Decidiram também arrumar nomes artísticos para cada integrante. Com isso o Eduardo passou a se chamar Eddy Teddy (por causa da música Ready Teddy), o Victor virou o Jipp Willis, o Pigmeu, Little Piga (referencia a música Little Pig do Buzz & the Flyers e também se aproximava do seu apelido) e o Lelo (que já era apelido de Marco Aurélio) ficou Lelo Cadillac.
Começaram a ensaiar em meados de 1981 e o repertório era formado basicamente por clássicos do Rock & Roll e por algumas versões desse revival Neo-Rockabilly.
Uma das primeiras músicas que criaram foi a versão da música Everybody's Movin do Glen Glenn que passou a se chamar “Roque, o Azarado” e que junto com “Não beba papai” formaram o 1º compacto da banda.

Na época dos primeiros ensaios o Luiz Calanca, que era proprietário da loja e gravadora Baratos Afins, estava lançando através do seu selo independente algumas bandas e se interessou na mesma hora pela proposta musical. O Rockabilly era uma novidade no Brasil mais ao mesmo tempo voltava com força total na Europa.
Gravaram um compacto em julho de 83 e fizeram o lançamento em agosto no bar Revolution, do Mallagoli. Em setembro surgiu um convite para tocar na semana dos anos 50 que o Sesc-Pompéia estava realizando e aí a coisa começou a andar. Foram para o Fábrica do Som, da TV Cultura e fizeram o circuito dos bares com música ao vivo. O compacto vendeu na época umas 3.000 cópias e serviu de cartão de visitas para o grupo.
Em 1984 as danceterias estavam no auge e isso abriu as portas e deu condições para se aperfeiçoarem musicalmente cada vez mais. Os espaços eram bons, organizados e com uma infraestrutura fantástica para promover grandes shows.

Fizeram quase todas as casas de São Paulo e a medida em que se apresentavam sentiam a necessidade de registrar um novo trabalho. Foi então que chegou o LP Rockabilly Bop.
As composições eram quase todas da banda e a produção também.
Convidaram alguns amigos para dar um toque extra nos arranjos e adicionaram metais e teclados em algumas faixas. Como na época estavam ouvindo muito uma banda chamada Roman Holyday e estavam impressionados pela instrumentação e arranjos resolveram experimentar essa sonoridade no LP.

As capas, do compacto e do LP, foram produzidas pelo Massao Hotoshi que sendo amigo do Eddy de muitos anos conseguiu captar o que a banda queria expressar.
Quando começaram a gravar o LP, tiveram que substituir o Lelo, que estava montando um barzinho e estava ficando sem tempo para a banda, pelo Wagner Benatti, mais conhecido como Bitão (que era amigo do Lelo e do Victor) e tinha participado da gravação do LP.
O Bitão que já era conhecido por fazer parte dos PHOLHAS um dos grupos musicais mais requisitados para os bailes paulistanos trouxe uma linha de guitarra mais trabalhada e com isso a banda ficou mais técnica e ousada. Quando o disco saiu, o Bitão já era o Billy Breque (referência ao Bill Black que tocava baixo com o Elvis).

Refizeram os arranjos para alguns temas antigos e produziram musicas novas. Nesta mesma época foram selecionados pelos leitores de algumas revistas como uma das 5 melhores bandas de rock no Brasil.

Uma das preocupações era preparar o set list incluindo temas que eram organizados dentro de uma sequência que contava a história do Roque, o Azarado. Quando lançaram o LP, distribuíram junto com o LP um encarte desenhado pelo Drago e pelo Vilachã que trazia o set list em forma de quadrinhos.
Viajaram para outros estados e tocaram em inúmeras casas e na a medida que se apresentavam carregavam uma legião de fãs, o que possibilitou até abrirem um show do Raul Seixas no Palmeiras.
Tudo isso durou até fevereiro de 1986 onde realizaram o último show no dia 28/02/86, juntamente quando saiu o Plano Cruzado. Após esta data o Coke Luxe se reuniu algumas vezes e os músicos tomaram outros caminhos, mas sempre mantendo uma grande amizade.

Em 1997 o Eddy Teddy veio a falecer de uma forma repentina e em 2004, o Little Piga também partia para outro plano espiritual.
Muito tempo se passou, praticamente 20 anos, após sua partida e muitas coisas rolaram de lá para cá. Tiveram momentos em que o Roque, o Azarado acreditou que o Brasil estivesse numa situação melhor, mais sua família foi crescendo e os problemas aumentando, os impostos e os carnês para pagar aumentando, o sistema de saúde piorando, as confusões familiares acontecendo a toda hora e o sonho da aposentadoria e da casa própria indo embora.

A única certeza de tudo isso é que o bom e o velho rock & roll esta mais vivo do que nunca e uma nova geração mantem a sua memória viva e a chama acesa. Motivado pelo amigo imaginário Pirok resolveu continuar escrevendo os próximos capítulos dessa história.
Não percam os próximos capítulos.
Luiz Teddy - Jul/2017
Comments